Audiência Pública em Caruaru sobre hospital ressalta a falta de diálogo do Governo de Pernambuco

Foto: Edvaldo Magalhães/Rádio Liberdade

A situação do Hospital Maternidade Regional Jesus Nazareno – FUSAM, em Caruaru, foi pauta de uma audiência pública da Assembleia Legislativa de Pernambuco nesta segunda-feira (18). A unidade seria fechada para ter seus serviços transferidos para o Hospital da Mulher do Agreste, que ainda não tem previsão para ser inaugurado. A iniciativa foi solicitada pela deputada estadual Rosa Amorim (PT) através da Comissão de Saúde e Assistência Social e foi realizada na Câmara Municipal de Caruaru.

“A marca dessa audiência pública foi a falta de diálogo da governadora Raquel Lyra, que é filha desta terra, e a conivência da Prefeitura de Caruaru que até o momento não se manifestou sobre o fechamento da maternidade onde nascem a maior parte dos caruaruenses”, lamentou Rosa Amorim, que destacou que a demanda do agreste é muito grande para apenas um hospital. “Precisamos abrir leitos e não fechar! Não somos contra a abertura do Hospital da Mulher do Agreste, mas entendemos que a região tem demanda para ser atendida em dois hospitais. A FUSAM funciona com superlotação e muitas vezes tem que transferir pacientes para fazerem partos no Recife”, conclui.

O Jesus Nazareno, também conhecido como antiga FUSAM, é um hospital de referência para gestação de alto risco secundário no agreste, funcionando com 120 leitos e atendendo cerca de 80 municípios. A unidade realiza até 18 partos por dia, chegando a mais de 500 por mês, segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde.

Profissionais de saúde em defesa da FUSAM

O médico obstetra Frederico Araújo, que trabalha no Jesus Nazareno, destaca a importância da manutenção da FUSAM para a saúde pública. “Nós, mais do que ninguém, vibramos com o lançamento do Hospital da Mulher, mas, para que ele atenda à demanda da região e os serviços extra que serão colocados lá, seria necessária a manutenção do Jesus Nazareno. Para que o Hospital da Mulher seja o que ele foi planejado para ser: um hospital de alto risco”, acredita.

O médico reclama da falta de reconhecimento do trabalho dos profissionais da unidade. “Nós somos a maternidade de maior movimento do estado, em apenas um ano foram foram mais de 6.000 partos. Já teve dias que, se chegasse alguém para ser operado, não teria maca para operar por causa da superlotação, e ainda tivemos que ouvir que a resistência na transferência do hospital seria por preguiça. Profissionais preguiçosos fazem 6.000 partos em 1 ano?”, destaca.

Marília Cavalcanti, diretora do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Pernambuco (SEEPE), entende a importância da unidade para o atendimento na região. “Essa unidade é fundamental para a Rede Materno-Infantil da região e é a única maternidade que atende a região do Agreste. A gente tem uma demanda que precisa de mais profissionais, mais investimento e mais leitos, e não de sua substituição”, pontuou a enfermeira, que também acredita que “a localização na PE-104 é estratégica para o atendimento dos 22 municípios da região e só facilita o acesso, ao contrário do que está sendo dito pelo Governo de Pernambuco”.

A ausência do Governo de Pernambuco

Apesar de ter sido convidado, o Governo do Estado não enviou representação para dialogar com a população da região sobre o fechamento da unidade. Isso foi comentado em todas as falas na audiência, bem como o compromisso que a governadora Raquel Lyra havia assumido com a rede materno-infantil do estado da criação de mais 5 maternidades, que ainda não se concretizou.

A moradora da comunidade Gonçalves Ferreira, em Caruaru, Sueni Alves, reclamou da falta de diálogo no fechamento da unidade. “É um absurdo que uma filha de Caruaru não tenha vindo até aqui para explicar o fechamento da nossa maternidade!”.

Loja maçônica nega ter pedido o terreno de volta

Entre os motivos divulgados para o fechamento da unidade, representantes da Secretaria Estadual de Saúde teriam afirmado que a Loja Maçônica Dever a Humanidade, de Caruaru, teria pedido de volta a posse do terreno que foi doado. No entanto, Antonio José Soares, representando a loja, compareceu à audiência para informar que não foi isto que aconteceu.

“Nós fomos surpreendidos com a notícia de que a loja maçônica tinha pedido de volta o terreno. O terreno foi doado para o estado, ou seja, é de propriedade do estado. Nós vemos que existem interesses financeiros naquele terreno, e não é a loja que está por trás disso. É vergonhoso o que estamos assistindo! O governo do estado devia ter mandado um representante para nos explicar o que está acontecendo. Nós maçons não temos o hábito de discutir política, mas essa é uma questão de humanidade”, afirmou Antônio.

A partir da audiência, a Comissão de Saúde e Assistência Social vai articular junto ao Ministério Público para que o  equipamento público seja mantido, cobrar uma resposta sobre a ausência do Governo do Estado na audiência e exigir que haja um plano de trabalho para manutenção dos serviços da FUSAM, a contratação de novos profissionais e a abertura de Concurso Público para profissionais da saúde.

A audiência contou com a presença do deputado Abimael Santos (PL), que dividiu a presidência da audiência com Rosa; o vereador de Caruaru Fagner Fernandes, o Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco (Coren-PE), a presidente do PSOL Michele Santos, o Sindicato dos Enfermeiros de Pernambuco (SEEPE), o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), o Conselho Municipal de Saúde, o Sindicato da Assistência Social, Sindicato dos Técnicos de Enfermagem (SATENPE), entre outros.

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